Aleister Crowley O Livro das Mentiras.
Aleister Crowley O Livro das Mentiras.
O
LIVRO
DAS
MENTIRAS
Aleister Crowley
Liber 333
O LIVRO DAS MENTIRAS,
o qual é também falsamente chamado
QUEBRAS,
os devaneios ou falsificações do único pensamento de
FRATER PERDURABO
(Aleister Crowley)
cujo pensamento é, em si mesmo, falso.
"Quebra, quebra, quebra / nos pés de tuas pedras, oh mar! / e eu pronunciaria / os pensamentos que nascem em mim!".
Tradução: Johann Heyss e Marcelo Santos
[N.T. – Uma perfeita adaptação do texto original ao idioma Português é verdadeiramente impossível, devido aos inúmeros trocadilhos e detalhes de cunho técnico, somente apreciáveis no texto em Inglês.]
COMENTÁRIO (Página do Título)
O número do livro é 333, como implicando dispersão, de modo a corresponder ao título: "Quebras" e "Mentiras". De qualquer forma, o pensamento é, em si mesmo, falso e, portanto, suas falsificações são relativamente verdadeiras. Por conseguinte, este livro consiste em declarações tão verdadeiras na linguagem humana quanto possíveis.
O verso de Tennyson é inserido, em parte, por causa do trocadilho com a palavra quebra e quebrar, e pela referência do significado da página do título; e, em parte, por ser divertido para Crowley citar Tennyson.
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KEFALH H OUK ESTI KEFALH
0! (1)
A Tríade Anterior Primitiva A Qual É
NÃO-DEUS
Nada é.
Nada virá a ser.
Nada não é.
A Primeira Tríade A Qual é DEUS
EU SOU.
Eu pronuncio A Palavra.
Eu ouço A Palavra.
O Abismo
A Palavra é quebrada.
Há Conhecimento.
Conhecimento é Relação.
Estes fragmentos são Criação.
A quebra manifesta Luz. (2)
A Segunda Tríade A Qual é DEUS
DEUS, o Pai e Mãe, é ocultado em Geração.
DEUS é ocultado em rodopiante energia da Natureza.
DEUS é manifestado em concentração: harmonia:
consideração: o Espelho do Sol e do Coração.
A Terceira tríade
Paciência: preparar.
Agito: fluir: flamejar.
Estabilidade: gerar.
A Décima Emanação
O mundo.
COMENTÁRIO (O Capítulo que não é um Capítulo)
Este capítulo, de número 0, corresponde ao Negativo, o qual é anterior a Kether no sistema Cabalístico.
Os pontos de interrogação e exclamação nas páginas anteriores são os dois outros véus.
O significado destes dois símbolos é inteiramente explicado em The Soldier and The Hunchback (O Soldado e o Corcunda).
Este capítulo começa com a letra O, seguida por um ponto de exclamação; sua referência à teogonia de Liber Legis é explicada na observação, mas é também referente a KTEIS PHALLOS e SPERMA, e é a exclamação de assombro ou êxtase, a qual é a natureza ultimal das coisas.
OBS.: (1) Silêncio. Nuit, O; Hadit; Ra-Hoor-Khuit, 1.
COMENTÁRIO (A Tríade Anterior Primitiva)
Esta é a Trindade Negativa; suas três declarações são, em último sentido, idênticas. Elas harmonizam Ser, Vir-a-Ser, e Não-Ser, os três modos possíveis de se conceber o universo.
A expressão Nada é (tecnicamente equivalente a Algo é) é totalmente explicada no ensaio Berashit.
O resto do capítulo segue o sistema Sephirótico da Cabala e consiste numa espécie de comento quintessencial sobre tal sistema.
Aqueles que estão familiarizados com esse sistema reconhecerão Kether, Chokmah e Binah na Primeira Tríade; Daath, no Abismo; Chesed, Geburah e Tiphareth na Segunda Tríade; Netzach, Hod e Yesod na Terceira Tríade; e Malkuth na Décima Emanação.
O capítulo pode, então, ser considerado o mais completo tratado sobre a existência já escrito.
OBS.: (2) O Inteiro, absorvendo tudo, é chamado Escuridão.
1
KEFALH A
O SABBATH DO BODE
O! o coração de N.O.X., a Noite de Pan
PAN: Dualidade: Energia: Morte.
Morte: Geração: os mantenedores de O!
Gerar é morrer; morrer é gerar.
Lança a Semente no Campo da Noite.
Vida e Morte são dois nomes de A.
Mata a ti mesmo.
Nada disto basta por si só.
COMENTÁRIO (A)
O formato do algarismo 1 sugere o Phallus; este capítulo é, então, chamado O Sabbath do Bode, o Sabbath das Bruxas, no qual o Phallus é adorado.
O capítulo começa com a repetição de O!, já comentado no capítulo anterior. É explicado que esta tríade vive na Noite, a Noite de Pan, a qual é misticamente chamada N.O.X., e este O é identificado com o O nesta palavra. N é o símbolo da Morte no Tarô; e o X, ou Cruz, é o signo do Phallus. Para um comentário completo sobre Nox, ver Liber VII , Cap. I.
Nox soma 210, o que simboliza a redução da dualidade à unidade e, portanto, à negatividade; conseqüentemente é um hieróglifo da Grande Obra. (Nota Trad.: Em numerologia, Nox soma 17, que é o número do arcano A Estrela no Tarô, o qual é associado a Nuit.)
A palavra Pan é então explicada, P, a letra de Marte, é um hieróglifo de dois pilares, e portanto sugere dualidade; A, por seu formato, é o pentagrama, energia; e N, pela sua atribuição com o Tarô, é morte.
Nox é mais bem explicada posteriormente, e é mostrado que a Trindade final, O!, é mantida ou alimentada pelo processo de morte e geração, os quais são a lei do universo.
A identidade destes dois é explicada posteriormente.
O Estudante é, portanto, incumbido de entender a importância espiritual deste processo físico na linha 5.
É então assegurado que a letra A final tem dois nomes ou fases: Vida e Morte.
A linha 7 equilibra a linha 5. Nota-se que a fraseologia dessas duas linhas é de tal modo concebida que uma contém a outra mais do que a si mesma.
A linha 8 enfatiza a importância de se realizar as duas.
2
KEFALH B
O GRITO DO FALCÃO
Hoor tem um nome secreto quádruplo: esse é Faze O Que Quiseres. (3)
Quatro Palavras: Nada - Um - Muitos - Todos.
Tu - Criança!
Teu Nome é sagrado.
Teu Reino é vindo.
Tua Vontade é feita.
Aqui está o Pão.
Aqui está o Sangue.
Leva-nos através da Tentação!
Livrai-nos do Bem e do Mal!
Que Minha, como Tua, seja a Coroa do Reino, mesmo agora.
ABRAHADABRA
Estas dez palavras são quatro, o Nome do Um.
COMENTÁRIO (B)
O Falcão refere-se a Hórus.
O capítulo começa com um comento sobre Liber Legis, III, 49.
Estas quatro palavras, Faze O Que Quiseres, são também identificadas com os quatro modos possíveis de conceber o universo; Horus unifica-os.
Segue uma versão do Pai Nosso , adequada a Hórus. Compare com a versão do cap. 44. Há dez seções nesta oração, e, como a oração é atribuída a Hórus, elas são chamadas quatro, como explicado acima; mas apenas o nome de Hórus é quádruplo; ele em si é Um.
Isto pode ser comparado à doutrina cabalista das Dez Sephiroth como uma expressão do Tetragrammaton (1 mais 2 mais 3 mais 4 = 10).
É visto agora que este Falcão não é Solar, mas Mercurial; daí as palavras usadas, O Grito do Falcão, a parte essencial de Mercúrio sendo a sua Voz; e o número do capítulo, B, sendo Beth a letra de Mercúrio, O Mago do Tarô, o qual tem quatro armas; e deve ser lembrado que esta carta é a de número 1, conectando novamente estes símbolos com o Phallus.
A arma essencial de Mercúrio é o Caduceu.
OBS.:
(3) Quatorze letras. Quid Voles Ilud Fac.
Q.V.I.F. 196 = 142.
3
KEFALH G
A OSTRA
Os Irmãos da AAsão um com a Mãe da Criança. (4)
Os Muitos são adoráveis ao Um, como o Um o é para os Muitos. Este é o
Amor Destes; criação-parto é a Glória do Um; coito-dissolução é a Glória
de Muitos. O Todo, assim combinado com Estes, é Glória.
Nada está além da Glória.
O Homem delicia-se ao unir-se com a Mulher; a Mulher em parir uma
Criança.
Os Irmãos da AAsão Mulheres: os Aspirantes à AAsão
Homens.
COMENTÁRIO (G )
Gimmel é a Grande Sacerdotisa do Tarô. Este capítulo fala da iniciação sob o ponto de vista feminino; é então chamada A Ostra, um símbolo da Yoni. Em Equinox X, O Templo do Rei Salomão, é explicado como os Mestres do Templo, ou Irmãos da AA, mudaram a fórmula de seu progresso. Estas duas fórmulas, Solve et Coagula, são agora explicadas, e o universo é exposto como a interação entre estes dois. Isto também explica a declaração de Liber Legis ,I, 28-30
OBS.: (4) Eles fazem com que todos os homens a adorem.
4
KEFALH D
PÊSSEGOS
Suave e vazio, como tu sobrepujas o duro e cheio!
Isto morre, isto se dá; a Ti é o fruto!
Sê tu a noiva; tu serás a Mãe doravante.
Assim para com todas as impressões. Não as deixes sobrepujarem-te,
porém deixa que se reproduzam em ti. A última
das impressões, vinda para sua perfeição, é Pan.
Recebe mil amantes; tu carregarás apenas Uma Criança.
Esta criança será a herdeira de Fado, o Fundador.
COMENTÁRIO (D)
Daleth é a Imperatriz do Tarô, a letra de Vênus, e o título, Pêssegos, de novo refere-se à Yoni.
O capítulo é um conselho para aceitar todas as impressões, é a fórmula da Mulher Escarlate; mas não se deve permitir dominar-se por impresão alguma, apenas frutificar-se; como o artista que, vendo um objeto, não o reverencia, mas produz uma obra-prima a partir dele. Este processo é mostrado como um aspecto da Grande Obra. Os últimos parágrafos talv