LIVRO 4
TEOLOGIA II
CAPÍTULO VIII
AS SOCIEDADES SECRETAS
O ZOAR E O RABINO SHIMON. (L. 4. Pg. 9)
A maior, dentre as obras cabalísticas dos hebreus - o Zohar, - foi compilada pelo Rabino Shimon
bem Yohai. De acordo com alguns críticos, esse trabalho foi feito alguns anos antes da era cristã; segundo
outros, só após a destruição do templo. Todavia, ele só foi completado pelo filho de Shimon, o Rabino
Eleazar, e por seu secretário, o Rabino Abba, pois a obra é tão imensa e os assuntos nela tratados são tão
abstrusos, que nem mesmo a vida inteira desse Rabino, chamado o Príncipe dos cabalistas, seria suficiente
para essa tarefa. Devido ao fato de se saber que ele possuía esse conhecimento, como o da Merkabah, que lhe
assegurou o recebimento da "Palavra", sua vida foi posta em perigo e ele teve de fugir para o deserto, onde
viveu numa caverna durante doze anos, cercado por discípulos fiéis, até a sua morte assinalada por sinais e
maravilhas.
Na venerável seita dos tannaim, os homens sábios, houve aqueles que ensinaram, na prática, os
segredos e iniciaram alguns discípulos no grande mistério final. Mas o Mishnah Hagîgâh, segunda seção, diz
que o conteúdo da Merkabah "só deve ser confiado aos sábios anciães". A Gemara [do Hagîgâh] é ainda mais
dogmática. "Os segredos mais importantes dos mistérios não eram revelados a todos os sacerdotes. Só os
iniciados os recebiam". E vemos então que o mesmo grande sigilo prevalecia em toda religião antiga.
Como vemos, nem o Zohar nem qualquer outro tratado cabalístico contém doutrina puramente
judaica a própria, sendo um resultado de milênios de pensamentos, é patrimônio comum dos adeptos de todas
as nações que viram o Sol. Não obstante, o Zohar ensina mais ocultismo prático do que qualquer outra obra
sobre esse assunto; não como ele foi traduzido e comentado por vários críticos, mas com os sinais secretos de
suas margens. Esses sinais contem as instruções ocultas necessárias às interpretações metafísicas e aos
absurdos aparentes em que acreditou tão completamente Josefo, que nunca foi iniciado e que expôs a letra
morta tal como a recebera.
A verdadeira magia prática contida no Zohar e em outras obras cabalísticas só deve ser utilizada por
aqueles que as podem ler interiormente. Os apóstolos cristãos - pelo menos aqueles que operavam "milagres"
(*) à vontade - deviam estar inteirados desta ciência.
São João alude claramente à poderosa "cornalina branca" - uma gema bastante conhecida pelos
adeptos como "alba petra" ou pedra da iniciação, sobre a qual se gravava quase sempre a palavra "prêmio" e
que era dada ao candidato que vencia com sucesso as provas preliminares por que um neófito deveria passar.
O fato é que nada menos do que o Livro de Jó, bem como o Apocalipse, é simplesmente uma narrativa
alegórica dos mistérios e da iniciação ali de um candidato, que é o próprio João. Nenhum maçom de grau
superior, versado nos diferentes graus, o compreenderá de maneira diferente. Os números sete, doze e outros
são outras tantas luzes lançadas sobre a obscuridade da obra. Paracelso afirmava a mesma coisa alguns
séculos atrás. E quando vemos "o semelhante ao Filho de um homem" dizer (Apocalipse II, 17): "ao vencedor
darei de comer o maná oculto e uma PEDRA BRANCA com um novo nome escrito" - a palavra - "que não
conhece senão quem o recebe", qual Mestre maçom titubeará em reconhecer essas palavras "JAH-BUHLUN".
HÓSTIA, UMA TRADIÇÃO PRÉ-CRISTÃ. (L. 4. pág. 11).
Nos mistérios míticos pré-cristãos, os candidatos que triunfavam intrepidamente das "doze provas",
que precediam a iniciação, recebiam um pequeno bolo redondo ou hóstia de pão àzimo que simbolizava, em
um dos seus significados, o disco solar, e era tido como pão celeste ou "maná" e que tinha figuras desenhadas
sobre ele. Um carneiro ou um touro era morto e, com o seu sangue, o candidato era aspergido, como no caso
da iniciação do imperador Juliano. As sete regras ou mistérios - representados no Apocalipse como sete selos
que são abertos "em ordem" - eram então confiados ao "nascido de novo". Não há dúvida de que o Vidente de
Patmos referia-se a essa cerimônia.
A origem dos amuletos católicos romanos e das "relíquias" abençoadas pelo Papa é a mesma do
"Conjuro Efésio", ou caracteres mágicos gravados numa pedra ou desenhados sobre um pedaço de
pergaminho, dos amuletos judaicos com versículos da Lei, chamados phylacteria, e dos encantamentos
maometanos com versos do Corão. Todos eles usados como conjuros mágicos protetores e utilizados por
todos os crentes. Epifânio, o digno ex-marcosiano, que fala desses encantamentos - quando eram usados pelos
maniqueus como amuletos, isto é, coisas colocadas ao redor do pescoço (periapta) - e dessas "encantações e
trapaças semelhantes", não pode lançar uma nódoa sobre a "trapaça" dos cristãos e dos gnósticos sem incluir
aí os amuletos católicos romanos e papais.
Devemos um capítulo aos jesuítas neste capítulo sobre as sociedades secretas, pois mais do que
qualquer outra, eles são um corpo secreto e têm uma velha ligação mais estreita com a Maçonaria atual - na
França e na Alemanha pelo menos - do que as pessoas geralmente sabem. O clamor de uma moralidade
pública ultrajada ergueu-se contra essa Ordem desde o seu nascimento. Apenas quinze anos haviam passado
desde a bula [papal] que promulgara a sua constituição, quando os seus membros começaram a ser
transferidos de um lugar para outro. Portugal e os Países-Baixos desfizeram-se deles em 1578; a França em
1594; Veneza em 1606; Nápoles em 1622. De São Petersburgo, eles foram expulsos em 1816, e, de toda a
Rússia, em 1820.
Os jesuítas causaram mais danos morais neste mundo do que todos os exércitos infernais do mítico
Satã. Toda extravagância dessa observação desaparecerá quando os nossos leitores da América, que sabem
pouco sobre eles, forem inteirados dos seus princípios (principia) e regras que constam de várias obras
escritas pelos próprios jesuítas. Pedimos licença para lembrar ao público que cada uma das afirmações foram
extraídas de manuscritos autênticos ou fólios impressos por esse distinto corpo. Muitas delas foram copiadas
de um grande Quarto publicado, verificado e coligido pelos Comissários do Parlamento Francês. As
afirmações ali reunidas foram apresentadas ao Rei a fim de que, como enuncia o Arrest du Parlement du 5
Mars 1762, "o filho mais velho da Igreja fosse conscientizado da perversidade dessa doutrina. (...) Uma
doutrina que autoriza o Roubo, a Mentira, o Perjúrio, a Impureza, toda Paixão e Crime, que ensina o
Homicídio, o Parricídio e o Regicídio, destruindo a religião a fim de substituí-la pela superstição, favorecendo
a Feitiçaria, a Blasfêmia, a Irreligião e a Idolatria (...), etc." Examinemos as idéias dos jesuítas sobre a magia.
Escrevendo a esse respeito em suas instruções secretas, Antonio Escobar diz:
"É lícito (...) fazer uso da ciência adquirida por meio do auxílio do diabo, desde que seja preservada
e não utilizada em proveito do diabo, pois o conhecimento é bom em si mesmo e o pecado de adquiri-lo foi
eliminado". Portanto, por que um jesuíta não enganaria o Diabo, já que engana tão bem os leigos?
"Os astrólogos e os adivinhos estão ou não obrigados a restituir o prêmio de sua adivinhação,
quando o evento não se realizar? Eu reconheço" - observa o bom Padre Escobar - "que a primeira opinião não
agrada de maneira alguma, porque, quando o astrólogo ou adivinho exerceu toda diligência na arte diabólica
que é essencial a seu propósito, ele cumpriu a sua tarefa, seja qual for o resultado. Assim como o médico (...)
não é obrigado a restituir os honorários (...) se o paciente morrer, tampouco o astrólogo deve devolver os seus
(...) exceto quando ele não se esforçou ou ignora sua arte diabólica, porque, quando ele se empenha, ele não
falha".
Essa nobre fraternidade, à qual muitos pregadores têm negado veementemente o fato de ser secreta,
tem provado sê-lo. Suas constituições foram traduzidas, para o latim pelo jesuíta Polanco e impressas, no
Colégio da Companhia, em Roma, em 1558. "Elas foram zelosamente mantidas em segredo e a maior parte
dos próprios jesuítas só conhecia extratos delas. Elas nunca foram reveladas antes de 1761, quando
publicadas pelo Parlamento Francês [em 1761, 1762], no famoso processo do Padre La Valette". Os graus da
Ordem são: I. Noviços; II. Irmãos Leigos ou Coadjuvantes temporais; III. Escol